domingo, 24 de julho de 2011

As influencias anarquistas do pensamento de Bertrand Russel



Bertrand Russel foi um dos maiores filósofos e matemáticos do século XX, desenvolvendo uma obra e um activismo ímpar ao longo do século em que viveu.

Bertrand Russel simpatizou ao longo de toda a sua vida com o anarquismo, muito embora tenha abraçado a ideia de um Estado Mundial para acabar com as guerras entre as nações. Com a idade de 23 anos, o jovem aristocrata é descrito na sua biografia como alguém com tendências anarquistas.

Russel conhecia o sentido e o significado do anarquismo quando escreve em 1918, pouco antes de ser preso por ter denunciado a legitimidade da I Grande Guerra Mundial, o livro "Roads to Freedom: socialism, anarchism, and syndicalism", onde inclui uma citação de Lao-Tzu:

Production without possession
Action without sel-assertion
Development withou domination


Num fundamentado texto da sua autoria, Russel define o anarquismo como a teoria que se opõe a toda a espécie de governo que resulte de uma imposição à força. A liberdade é o supremo bem do credo anarquista, devendo a liberdade ser entendida como a via mais directa para a abolição de todo o controle forçado sobre os indivíduos pela comunidade. Russel defende que o anarquismo deve ser o ideal último para o qual a sociedade deve continuamente aproximar-se. Aliás, o próprio Russel defende que o anarquismo esta particularmente ajustado em áreas tão diversas como a arte, a ciência, as relações humanas e alegria o gozo de viver.

No entanto, ele confessa que por enquanto, e nos tempos mais próximos, será muito difícil que este sonho se venha a realizar-se. Numa sua obra de juventude "Principles of Social Reconstruction" (1916), ele admite que o Estado e a propriedade são as duas mais poderosas instituições no mundo moderno. Porém, ao mesmo tempo que tenta demonstrar quanto dispensáveis são muitos dos poderes estatais, também aceita a utilidade de outros a fim de evitar a substituição da lei pela força nas relações humanas. "A anarquia primitiva, que antecedeu a lei, era muito pior que a lei", escreve Russel. O Estado teria também, segundo ele, um papel positivo a desempenhar na educação obrigatória, na saúde e na administração da justiça económica.

Apesar das fortes críticas de Bakukine e de Kropotkine contra o Estado, Russel admite que alguma coerção da comunidade deva subsistir sob a forma de lei, assim como o Estado é uma instituição necessária para a realização de certas e limitadas tarefas. Sem o Estado o forte poderia oprimir o fraco. Defendia, de todas as ideologias então referenciadas, o socialismo corporativista (guild socialism), se bem que sempre recordando que "o livre crescimento do indivíduo deva ser o fim supremo de todo o sistema político". Num dos números do jornal anarquista Freedom (fundado por Kropotkine) o livro "Roads to Freedom" de Bertrand Russel é vivamente recomendado, observando que os trabalhos do autor contêm propostas construtivas para o anarquismo.


Russel visitou a Russia no Verão de 1920 onde se encontrou com anarquistas como Emma Godman e Alexander Berkman que lhe apresentaram a cidade de Moscovo e vários leaders bolchevistas. O livro que reúne as suas impressões dessa viagem, "The Practice and Theory of Bolchevism" (1920), inclui já várias observações críticas à situação numa altura em que qualquer crítica à ditadura bolchevista era vista, pela esquerda, como uma traição . Dois anos depois, quando Emma Goldman procurou refúgio político na Grã- Bretanha, foi Russel que fez as necessárias diligências junto do Home Office, garantindo que aquela se comprometia a não desenvolver qualquer forma de anarquismo violento no país. No jantar de boas-vindas em Oxford, a única pessoa a aplaudir os violentos ataques feitos por Goldman ao governo soviético foi Russel. A reportagem do Freedom sobre o acontecimento terminava assim: "Mr. Russel, o filósofo mais acutilante da Inglaterra, proferiu então um discurso onde demonstrava as suas mais firmes convicções anarquistas."


Apesar de tudo, Russel manteve sempre alguma distância para com os anarquistas. Recusou, por exemplo, ajudar Emma Goldman a constituir um comité de ajuda aos prisioneiros políticos russos com o argumento que não via uma alternativa melhor ao governo soviético e que não resultasse ainda em maior crueldade. Escreve então a Goldman o seguinte: "Não vejo a abolição de todos os governos como algo que tenha possibilidade de se realizar nas nossas vidas ou mesmo durante o século XX". Mesmo assim, e depois de constatar a inutilidade da sua tomada de posição, acabou de censurar o tratamento dado pelo governo bolchevista aos seus prisioneiros políticos. E quando Sacco e Vanzetti foram executados, Bertrand Russel não teve dúvidas em afirmar que tinham sido injustamente condenados por motivo das suas opiniões políticas.


As atitudes e as suas afirmações libertárias, bem como toda a sua relutância em seguir à risca as posturas anarquistas resultam da sua singular concepção da humanidade e do universo, e do facto de estar consciente da "falácia naturalística" a que Kropotkine e outros anarquistas não escapavam ao defenderem argumentos baseados na supremacia das leis da natureza, que deviam ser seguidas, mas que na perspectiva de Russel mais não nos levaria que não sermos escravos da própria natureza. Tal não o impedia contudo em reconhecer que "se a Natureza deva ser o nosso modelo, então os anarquistas teriam o melhor dos argumentos. Com efeito, o universo físico está ordenado não porque tenha um governo central mas simplesmente porque todos os seres tudo fazem para assim ser"

Como ateísta e atomista, Russel tem uma sombria concepção da humanidade não obstante as suas esperanças de um mundo melhor. Ele considera que o homem é o resultado de uma "conjugação acidental de átomos" destinada a extinguir-se com a morte do sistema solar. Mas apesar da efémera e acidental posição do ser humano no universo tal não significa que o homem não possa lutar para a melhoria de todos. Só a crença do mais profundo desespero pode construir um mundo melhor.

Como humanista, Russel preocupa-se em lutar pela expansão da liberdade e felicidade humanas. Coisa que não é fácil.

Nos anos 50 e 60 Russel envolve-se mais uma vez com grupos de anarquistas no Comité dos Cem no âmbito da Campanha pelo Desarmamento Nuclear. O velho filósofo bate-se então pela acção directa não-violenta e pela desobediência civil em larga escala

Nos textos de Bertrand Russel perpassa uma forte brisa libertária como se pode ser no seguinte excerto:


"Thought is subversive and revolutionary, destructive and terrible. Thought is merciless to privilege, established institutions and comfortable habits. Thought is anarchic and lawless, indifferent to authority, careless of the well-tried wisdom of the ages".

Fonte: Blog Pimenta Negra

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Prefeito de Araguatins é alvo de ação do MPE por irregularidades em prestação de contas


O MPE protocolou Ação Civil Pública contra o prefeito de Araguatins Francisco da Rocha Miranda devido a irregularidades encontradas em prestação de contas. Mais de R$ 158 mil teriam sido gastos com despesas sem autorização legal.
Da Redação

O Ministério Público Estadual (MPE) se manifestou na Ação Civil Pública contra o Prefeito de Araguatins Francisco da Rocha Miranda, devido a diversas irregularidades encontradas em prestação de contas. Conforme a Ação, de abril a dezembro de 2005 e de janeiro a abril de 2006, foram gastos R$ 158.684,59 (cento e cinquenta e oito mil, seiscentos e oitenta e quatro reais e cinquenta e nove centavos) com despesas de hospedagem e alimentação com ordenamento para realização dessas despesas sem autorização legal.

“Não se pode aceitar que numa cidade que é palco de manchetes das grandes mídias nacionais devido ao descaso com a saúde pública (doença ocular - cegueira) e com a educação (escola funcionando em um bar, escolas sem cadeiras, escolas sem merenda, escolas caindo aos pedaços), o gestor municipal gaste uma quantia com refeições para correligionários e amigos pessoais” citam os Promotores de Justiça na Ação.

Na Ação, a Promotoria de Justiça requer a condenação do gestor por ato de improbidade administrativa. Caso condenado, o réu deverá ressarcir o dano causado ao Município, poderá perder a função pública, ter os direitos políticos suspensos, podendo ainda ser proibido de contratar com o poder público e de receber benefícios. Assinaram a Ação os Promotores de Justiça, Breno Simonassi, Paulo Sérgio Ferreira Almeida e Elison de Souza Medrado.

O bens do Prefeito de Araguatins, Francisco da Rocha Miranda, já estão bloqueados pela Justiça em virtude desta mesma ação.

Verbas Fundeb

Os Promotores de Justiça também requisitaram ao Prefeito, que no prazo de dez dias, apresente documentos relativos a prestação dos recursos repassados pelo Fundeb – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica, referentes ao ano de 2009, tendo em vista notícia crime encaminhada pela Procuradoria da República do Tocantins. Caso o requerimento não seja atendido, o MPE vai propor ação judicial.

(Da Assessoria de Comunicação do MPE)

Islândia: nova Constituição em redes sociai


Depois de vencer crise financeira enfrentando banqueiros, pequeno país inova e busca democracia que supere a representação

Por Paula Thomaz, na Carta Capital

Três anos depois de passar por uma crise financeira que derrubou o primeiro-ministro Geir Haarde, quebrou vários dos bancos nacionais e causou uma queda drástica do valor da moeda local, a Islândia aos poucos tenta se reerguer. E o passo mais incisivo para a volta por cima tem sido a discussão para a criação de uma nova Constituição que dê novos ares à base legal do estado islandês. E com uma grande novidade: esta nova Constituição está sendo discutida via as redes sociais da internet.

Com 320 mil habitantes, o equivalente à cidade brasileira de Vitória (ES), e com dois terços dessa população conectada, a discussão para a nova Constituição islandesa se dá por meio de vídeos do YouTube em tempo real, que mostram os debates do Conselho, fotos no Flickr, pequenas frases no Twitter, no site oficial dos temas (em islandês e em inglês), e no Facebook é que as ideias estão abertas para discussão. Em entrevista à Associated Press, o porta-voz do projeto de revisão constitucional Bernhard Berhildur Morris, disse que é possível registrar a participação da população por todas as redes sociais, “mas principalmente pelo Facebook”.

Os trabalhos para a criação da nova Constituição começaram a partir de um Fórum Nacional em que 950 islandeses passaram a discutir as leis básicas. Daí, gerou-se um relatório com mais de 700 páginas que está sendo analisado pelo Conselho Constitucional Islandês, composto por 25 pessoas, que recorreram às redes sociais para divulgação e recebimento de sugestões do público.

Para Henrique Antoun, especialista em comunicação e transformação política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “mesmo as pessoas que não estejam diretamente conectadas, pode se fazer representar na medida de seu interesse”. E que o fato de a Islândia ser um país pequeno facilita tudo. “Seria mais complicado em um país com as dimensões do nosso uma discussão dessa. É muito mais discutido do que um projeto que fica à mercê de representantes, deputados, vereadores e senadores. Agora a internet tornou, não obsoleta, mas secundária, essa necessidade de representação. Porque você pode se representar por meio do sistema. E é um sistema que não maquia a participação. Todo mundo que está ali, se sente representado. Todo mundo tem voz”, diz.

Em vias de ser finalizada a participação dos islandeses nas redes, no fim deste mês deve-se ter um documento final para ser submetido a um referendo.

Fica o exemplo da Islândia para países pequenos ou não. “É só uma questão de equacionar o grau de participação e o grau de interesse da transformação (que se quer). Eu acho que a tendência é se radicalizar cada vez mais, porque cada vez mais as pessoas percebem que seus interesses desaparecem na hora dos políticos representá-los. Há um problema sério com a representatividade. É a tal da crise da representatividade, que passa por essa visão limitada de que só a mediação pode realmente representar interesses gerais”, afirma Antoun.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A bunda da África: a bunda que amamos


Enviado por Rubens Pontes



Em Namibia, sudoeste da África, vivem ainda hoje os bosquianos, negros pertencentes a grupos etnicos cujas mulheres são portadoras de uma caracerística genética peculiar, com excessiva acumulação de gordura nos glúteos. Angola, terra dos bantos, foi origem de milhares de escravos deportados para o Brasil; seu dialeto era o quimbundo (Kimbundu) da palavra bunda. Outra tribo africana, os bundus (bunda) se caracterizava igualmente pelo traseiro avantajado de suas mulheres que povoaram eitos e camas dos seus senhores.

A palavra bunda, com que designamos o derrière de homens e principalmente de mulheres, não existe em outra lingua. Trata-se de uma analogia decorrente das africanas que chamavam a atenção pela anatomia que nos encanta na excelente seleção do blogui e que levou poetas como Carlos Drumond de Andrade a reverenciar a bunda num dos seus poemas:

A BUNDA

Carlos Drumond de Andrade

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadencia mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama, agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

La vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na caricia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
rebunda.


Por Walder Rocha.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Discurso por mim pronunciado na Câmara de Vereadores de Araguatins em cerimônia que homenageou o Promotor de Justiça Breno Simonassi

(09 de junho de 2011)


Iniciarei minhas palavras com uma passagem do “Último Discurso” do filme “O Grande Ditador”, de Charles Chaplin: “Desejamos viver para a felicidade do próximo”. Nos nossos dias esse pensamento encarna um ideal que parece haver desaparecido nas brumas do passado. “Viver para a felicidade do próximo” é uma paixão altruísta que parece não caber mais em nossos corações. É urgente a necessidade de boas pessoas. Vivemos em uma época, parafraseando Einstein, em que é mais fácil quebrar um átomo que um preconceito. Contudo, não estamos perdidos, e vamos mais além, venceremos! Temos entre nós pessoas que nos inspiram essa convicção.


Estamos aqui, digo isso em nome dos servidores da Promotoria de Justiça de Araguatins, não para homenagear um herói, o povo que precisa de heróis é um povo incapaz de construir sua própria história. Homenageamos um homem, uma pessoa de coração apaixonado e espírito intenso, uma pessoa em que inteligência e juventude nela se conjugam, uma pessoa que apesar de suas qualidades, que são inúmeras, também erra. Mas não é próprio do ser humano ser perfeito. Se erra é capaz de reconhecer seus erros por ser pessoa de humildade. E isso a põe acima de muitas outras.


São essas pessoas, semelhantes ao nosso Excelentíssimo Promotor de Justiça, muitas vezes inigualáveis, muitas vezes incompreendidas, que se projetam além de suas condições, arriscando-se a viver no infortúnio, para se pôr no lugar do outro e compartilhar com ele de suas dores e alegrias. São essas pessoas que nos inspiram a seguir adiante em busca de um futuro próximo com justiça e bem-estar social, um futuro em que a fome e a desumanidade não encontrem cúmplices nem teto para repousar.

Discurso realizado pelo servidor Jorge Paulo Pontes da Silva, servidor do MPE-TO de Araguatins, em face do recebimento do Título de cidadão Araguatinense ao Promotor de Justiça Breno Simonassi, 09 de junho de 2011.

O sistema prisional no Estado do Tocantins vai mal



Radiografia de delegacias e casas de prisão da capital, Palmas, revela as enormes fendas que parecem minar o sistema prisional do Estado. O levantamento realizado pelo Sindicato dos Policiais Civis do Tocantins (Sinpol-TO) aponta uma série de problemas que emperra a atividade dos servidores e o bom cumprimento do papel para o qual instituições como a Unidade de Regime Semi-Aberto foram criadas. Faltam servidores efetivos, estruturas adequadas que possam garantir maior segurança. Segundo a matéria publicada no órgão oficial de comunicação da polícia civil, “presos e policiais civis dividem o mesmo banheiro; não há alojamento adequado para os policiais e os portões do barracão sequer possuem condições de controlar entrada e saída de pessoal” - referindo-se à Casa Albergue.