segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Os hackers da política

Ao invés de apenas lançar críticas contra a crise da representação, um coletivo de ativistas prepara-se para viajar pelo país mostrando à população que é possível apropriar-se de dados do Estado, e interferir sobre eles

Do Blog do Paraná

Para uma nova sociedade conectada, um novo modo de fazer política. É o que propõe o movimento Transparência Hacker. Um coletivo de programadores, estudantes, jornalistas, advogados e ciberativistas que produzem tecnologias sociais para fiscalização, acompanhamento e participação cidadã nas políticas públicas e funções de governo.

Para eles, conectar é possibilitar colaboração, e permitir colaboração é reconstruir a participação democrática no âmbito de Estado ou fora dele; em suma: abrir, por meio da tecnologia, o processo político para a participação de todos. Para dar substância prática a essa pretensão revolucionária, produzem aplicativos e programas a partir de dados governamentais – sempre de modo aberto, fragmentado e colaborattivo – em rede.

Aqui e aqui, reportagens que produzi recentemente sobre o movimento.

Não bastasse o sucesso das recentes iniciativas do coletivo, resolveram se jogar em mais uma empreitada ousada. É “Ônibus Hacker”, que irá rodar o país peregrinando e anunciando o evangelho da nova política conectada. Em cada cidade, o coletivo irá produzir junto com a população soluções participativas para transformar a realidade local. Vale a pena conhecer o projeto (aqui) e apoiar.

Abaixo, entrevista (cerca de 20 minutos) com Pedro Markun, um dos idealizadores do movimento. Na conversa com o jornalista Armando Rollemberg da TV Senado, ele fala entre, outros temas, sobre o que é e o que faz um hacker da política. Imperdível.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cruzamento de dados demonstra: blogs começam a superar jornais

23 ago

Na última semana uma pesquisa da CNT/Sensus sobre a popularidade da presidenta Dilma Rousseff apurou também a força da blogosfera e das redes sociais. Segundo relatou o Blog do Miro, “dos entrevistados, 16% disseram recorrer “sempre” aos blogs de notícias – cerca de 21 milhões de brasileiros; e 12% disseram recorrer “às vezes” – cerca de 16 milhões”.

Os resultados são positivos e expressivos. Mesmo sem o Plano Nacional de Banda Larga posto em prática, a internet avança pelo país e os blogs começam a firmar-se como fonte de informação. Os 21 milhões de brasileiros recorrendo “sempre” aos blogs de notícias são ainda mais relevantes se lembrarmos que a Associação Nacional de Jornais comemorou recentemente o recorde de circulação de jornais no Brasil, com uma média, no primeiro semestre, de pouco menos de 4,5 milhões circulando diariamente. Costuma-se estimar que cada exemplar seja lido por quatro pessoas. Ou seja, são 18 milhões de leitores de jornais diários contra 21 milhões de brasileiros que recorrem sempre aos blogs para se informar. Esse cruzamento de pesquisas não permite inferir que há mais leitores de blogs do que de jornais, o que não o torna menos significativo.

Certamente não há um blog que possa concorrer com os leitores da Folha de S. Paulo, o jornal de maior circulação, e nem é bom que haja. A lógica da blogosfera não é nem deve ser a concorrência entre os espaços, mas sua complementaridade e mútua alimentação. É justamente nas linkagens, nas referências e nas indicações de lado a lado que todos os blogs noticiosos / políticos crescem juntos. É no crescimento de um que crescem todos, e no crescimento de todos que cresce cada um.

Infelizmente a televisão ainda é totalmente dominante. O entretenimento – sempre alienante, na programação das emissoras de televisão com sinal aberto no Brasil – puxa a audiência dos telejornais. A alienação aberta salva a audiência da manipulação disfarçada de informação. Mas, aos poucos, com o aumento do acesso a computadores particulares, há também a tendência à destinar-se menos atenção à televisão, mesmo que ela esteja ligada. A concentração primária pode passar à tela do computador, aos blogs e às redes sociais.

A tarefa, nesse contexto, é aprimorar as formas de integração entre os blogueiros comprometidos com uma nova comunicação, uma comunicação popular e independente. Também é tarefa fundamental desvincularmo-nos das práticas da mídia tradicional. Para construirmos a transição do velho ao novo modelo de comunicação precisamos primar pela horizontalidade, pluralidade e comprometimento com as causas populares e com a absoluta transparência. Há ainda outras dificuldades e outras tarefas, muitas delas já comentadas em outros posts aqui mesmo do Jornalismo B. Estamos avançando. É hora de aprofundar e radicalizar esses avanços.


Fonte: Jornalismo B

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O mundo paralelo de Christiani

A lagoa era linda, com margens gramadas e águas amarelinhas, de onde saltavam dezenas de peixes e torradeiras

Por Daniel Cariello, de Chéri à Paris

Estávamos na porta de Christiania, a célebre cidadela hippie de Copenhaguen, onde artistas, vagabundos, poetas, marginais, traficantes, hippies e todo tipo de alternativo convivem harmonicamente há 40 anos como se o sonho sessentista de paz & amor & drogas nunca tivesse deixado de existir.

Antes de passarmos a barreira, lembrei-me do aviso de um amigo: “Velho, Cristiania é um mundo paralelo. Ali você acessa uma outra dimensão, uma realidade muito diferente da nossa. Não é pra iniciantes, fica ligado”.

Entramos um pouco apreensivos e prendemos o ar. Mas logo percebemos que meu amigo havia exagerado. Tudo parecia completamente normal. O céu era esverdeado, como em qualquer lugar do mundo. E a chuva de purpurinas em forma de coração não era forte o bastante para incomodar. É verdade que estranhei um pouco um sujeito vestido de Charles Chaplin que andava plantando bananeira, mas o cachorro rosa ao meu lado me tranquilizou, garantindo que o cidadão só caminhava daquele jeito porque se sentia um pouco indisposto.

Na rua principal, comerciantes de alimentos e plantas ali mesmo produzidos dividiam espaço com enormes placas informando que era proibido tirar fotos e tocar balalaika. Fiquei tão absorvido lendo o informe que quase fui atropelado por um elefante distraído. Não posso reclamar, e culpa era minha, eu estava fora da faixa e não respeitei a preferência do bicho.

Um pouco mais à frente, um pequeno palco recebia uma banda cover de Black Sabbath. A música estava boa, mas por que um dos músicos estava tocando com uma cadeira de balanço no lugar da guitarra? Comentei o fato com um carinha ao meu lado e ele não sabia a razão. O engraçado é que ele era a cara do Ozzy Osbourne. Não só ele, aliás, mas todas as outras pessoas da platéia. Teve um momento em que todo mundo se virou pra mim, fez o símbolo do heavy metal e gritou um sonoro “yeah!”. Eu berrei um “yeah!” de volta. Daí foi um pulo pra cantarmos Paranoid em coro.

Continuamos nossa peregrinação pelo lugar, sempre tomando cuidado para desviar das poças de areia movediça e dos malditos aviões que insistiam em passar dando rasantes nas nossas cabeças, e chegamos a uma lagoa. Era linda, com suas margens gramadas, sua pequena ponte ligando a uma ilhota e suas águas amarelinhas, de onde saltavam dezenas de peixes e torradeiras. Paramos uns minutos pra relaxar e aproveitar a paisagem.

Cansados da peregrinação, decidimos que o momento da cerveja era chegado. Entramos em um bar curioso, pois havia gelatina no lugar do chão e a única maneira de se locomover era saltando. Entre um pulo e outro, conseguir entrar em fase com um ciclope e perguntei como fazia pra descolar uma bebida. “Nada de mais simples”, ele disse. “Basta entrar naquela fila ali e recitar um ou dois trechos de Goëthe, em alemão”. Escolhi meus preferidos, soltei a voz e solicitei três Carlsberg.

Cervejas acabadas, resolvemos ir embora. Embarcamos na nave estacionada em frente ao bar e eu disse ao comandante Jimi Hendrix o endereço do nosso hotel. Consternado, ele explicou que só poderia nos levar até a fronteira da cidadela, não tinha autorização de passar daquele limite.

É claro que aceitamos a carona de bom grado. Jimi nos deixou na entrada, apertou nossas mãos, tocou fogo na nave e se mandou. Cruzamos a porta de Christiania e soltamos o ar. Ali tivemos certeza de que meu amigo havia inflacionado seu recito, pois aquele lugar nos pareceu muito normal. Pergunta pra Janis Joplin, pro Jim Morrison, pro Andy Wharol, pro Raul Seixas ou pro Timothy Leary, que estavam o tempo todo com a gente.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

SP discute criação do Dia do Orgulho Hétero

A quatro dias da Parada do Orgulho LGBT, um dos maiores eventos da capital paulista, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou hoje a inclusão do projeto que cria o Dia do Orgulho Heterossexual para ser votado em segunda discussão. Ele deve entrar em votação ainda nesta tarde. O texto é do evangélico Carlos Apolinário (DEM), que há três anos é contra a realização da Parada do Orgulho LGBT na Avenida Paulista.


O projeto que cria o Dia do Orgulho Heterossexual, a ser comemorado em todo terceiro domingo de dezembro, tem o apoio de lideranças evangélicas e entrou em regime de urgência para ser votado com o apoio de 28 vereadores. Ítalo Cardoso, líder do PT, se posicionou contra o projeto e pediu a suspensão da sessão.

Por volta do meio-dia, todos os trabalhos estavam paralisados na Câmara por causa da discussão sobre o projeto. O líder do PT diz que nada mais será votado no dia se a proposta de Apolinário não for retirada da pauta - o projeto é o primeiro item da pauta da sessão extraordinária. O dia começa mais uma vez tumultuado no Legislativo paulistano, um dia após o vereador Aurélio Miguel (PR) travar a votação do pacote que concede isenção de R$ 420 milhões para o Corinthians.